sábado, 25 de dezembro de 2010

Síndrome de Asperger

   Asperger é, até os dias de hoje, um desafio. A Síndrome de Asperger é uma condição ainda pouco conhecida e de difícil diagnóstico, devido à dificuldade na padronização ou definição. O aumento de casos diagnosticados faz com que se pesquise mais sobre o assunto,mas sua cura ainda está distante. Atualmente, é considerada uma síndrome por apresentar um conjunto de sintomas que pode ter mais de uma origem.
   O termo “Autismo” foi usado pela primeira vez por Ernst Bleuler, em 1991, para descrever um dos sintomas de base da esquizofrenia, caracterizado pelo isolamento social. Os autores pioneiros na descrição do Autismo foram Leo Kanner (EUA),1943, e Hans Asperger (Áustria), 1944. Em seus trabalhos, ambos chamavam atenção para crianças que apresentavam características comuns relacionadas à forma particular de comunicação, à dificuldade de adaptação ao meio social, às estereotipias motoras e ao caráter enigmático e irregular das capacidades intelectuais.
  A Síndrome de Asperger, assim como outros quadros autísticos, tem sido definida como um transtorno evolutivo raro, caracterizado por um severo déficit no contato social, que surge desdea infância, persistindo até à idade adulta.
  Ao descrever o quadro, Hans Asperger chama atenção para crianças com uma alteração fundamental, manifestada através de seus comportamentos e modos de expressão, que gera dificuldades consideráveis e bem típicas na interação social. São eles:

  • a singularidade do olhar; a mímica facial pobre; a utilização da linguagem anormal e pouco natural; a invenção de palavras; a impulsividade em geral de difícil controle; dificuldade no aprendizado de alguns ensinamentos; os centros de interesse bastante pontuais; e a capacidade freqüentemente presente para a lógica abstrata;
  • a qualidade vocal é característica, usando palavras impróprias para a idade;
  • peculiaridades da linguagem não verbal como a falta de contato olho-olho e alterações de gestos, postura, labilidade de humor e pedantismo.
   Indivíduos com a Síndrome de Asperger percebem o mundo diferentemente de nós, diz o autor.
 Com freqüência, apresentam conflitos internos relacionados aos pensamentos, sentimentos e comportamentos convencionais, desenvolvendo uma forma particular de “estar no mundo”,adaptando-se a ele com manobras compensatórias, chegando a conseguir algum grau de independência e de relacionamento social na vida adulta.
   Na maior parte dos acometidos pela síndrome, a característica mais flagrante é a falta de interação social, compensada em alguns casos por uma originalidade particular na forma de pensar,que pode levar a capacidades excepcionais.
  A designação de Síndrome de Asperger tem sido empregada em diferentes situações, como sinonímia de autismo atípico ou residual,“autismo de bom prognóstico”,“autismo de alto funcionamento”, ou ainda para alguns indivíduos com outras formas de transtorno invasivo do desenvolvimento ou mesmo comoum transtorno independente do autismo. Na realidade, nenhum dos autores que se preocupa em estabelecer critérios diagnósticos para a Síndrome de Asperger foi categórico em defini-la como condição distinta do autismo, considerando-a como parte do transtorno do espectro autista (Schopler, 1985; Volkmar, Paul &Cohen, 1985; Wing, 1986).
  Nos tempos atuais,“Asperger” refere-se àqueles indivíduos que apresentam características autísticas, são inteligentes e apresentam aptidões lingüísticas aparentemente normais, mas que não preenchem todos os critérios necessários para que se caracterize um quadro autístico clássico (Klin, 1995). Apesar desses indivíduos apresentarem dificuldades na interação social, percebe-se que é no desenvolvimento da linguagem que ocorre a característica diferencial, pois na Síndrome de Asperger não seriam observados atrasos tão significativos no seu desenvolvimento.
  Após revisão dos critérios diagnósticos utilizados pela American Psychiatric Association (DSM-III; DSM-III R; CID 10e DSM-IV) observa-se, ainda nos dias de hoje, complexidade para o diagnóstico médico da Síndrome de Asperger, por ser baseado em descrições que não permitem conclusões quanto à sua etiologia. Conclui-se que uma classificação comum torna-se fundamental na compreensão e investigação diagnóstica desta e de outras patologias que fazem diagnóstico diferencial.
  Atualmente, os critérios usados como parâmetros de avaliação diagnóstica da Síndrome de Asperger são os do DSM lV(Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder).
  Em relação às características da Síndrome de Asperger ou do “Autismo de Alto Funcionamento”, alguns autores as descrevem como crianças que apresentam, em geral:
  • grande capacidade intelectual, pois algumas chegam a ler por volta dos três ou quatro anos de idade, sem nunca terem sido ensinadas, dentre outros talentos;
  • a dificuldade na comunicação pode ocorrer pelo fato de algumas dessas crianças iniciarem a falar tardiamente, ocasionando um baixo limiar de tolerabilidade, tornando-se, em geral, irritados pela frustração de não conseguirem manifestar de pronto suas vontades;
  • nem sempre ocorre comprometimento de coordenação motora envolvendo grandes músculos, pois alguns conseguem se sobressair em esportes;
  • como características peculiares, essas crianças muitas vezes têm dificuldade para escrever usando lápis ou caneta, mas conseguem fazê-lo usando computadores ou máquinas de escrever;
  • costumam repetir exaustivamente a mesma situação, mas com uma diferença significativa em relação aos considerados autistas “clássicos”, porque se comunicam após terem assistido a um filme várias vezes, por exemplo;
  • esses indivíduos são considerados “esquisitos”, e têm grande dificuldade de interagir com os demais, no convívio social.
  Já a “Hiperlexia”, por definição da AHA-(Associação Americana de Hiperlexia), é uma síndrome observada em crianças que têm as seguintes características:
  • habilidade muito desenvolvida para ler palavras além do que seria esperado na sua idade cronológica, e/ou também uma intensa fascinação por números ou letras;
  • dificuldade significativa em entender e utilizar a linguagem verbal ou faltade habilidade no aprendizado não verbal;
  • dificuldade na interação social;
  • o sintoma mais importante é a grande habilidade para decodificar palavras impressas (geralmente entre os 18 e 24 meses de idade, os pais ficam surpreendidos com a habilidade da criança em ler letras e números);
  • não raro, por volta dos três anos de idade, as crianças vêem palavras impressas e as lêem, algumas vezes o fazem mesmo antes de terem aprendido a falar;
Quanto aos distúrbios de linguagem e de aprendizado daquelas crianças que falam (algumas crianças com hiperlexia não conseguem), muitas apresentam o seguinte padrão de linguagem:

  • tentativas de fala precoce são ecolálicas (tanto imediatas como retardadas);
  • boa memória auditiva para canções aprendidas mecanicamente, o alfabeto e números, e também uma boa memória visual;
  • compreensão de palavras isoladamente (principalmente substantivos) melhor do que a compreensão de sentenças;
  • anormalidades acentuadas na forma ou no conteúdo da fala,incluindo fala estereotipada e repetitiva, uso de reversões pronominais e idiossincrático de palavras ou frases;
  • redução na habilidade de iniciar ou manter uma conversação,apesar da fala gramaticalmente adequada (em alguns casos).
   Todas as crianças hiperléxicas parecem ter um reconhecimento visual de “palavras” que pode não ser relacionado ao reconhecimento de sinais verbais. Eliot e Needleman (1976) sugeriram a existência de uma capacidade inata de reconhecer uma palavra escrita como um símbolo lingüístico separado da palavra falada audível (MOUSINHO, 2001).
   Através das descrições realizadas, poder-se-ia enquadrar a hiperlexia como um subtipo de Asperger, correlacionando essa capacidade específica de leitura a outras apresentadas por pessoas coma Síndrome de Asperger, tais como eventual capacidade extraordinária para cálculos, memorização impressionante de mapas,estradas, bandeiras ou calendários, pelo menos no que se refere aos hiperléxicos com melhor desenvolvimento da linguagem.

Etiologia/Etiopatogenia

   As primeiras teorias etiológicas em relação ao autismo clássico descrito por Leo Kanner e outros autores baseavam-se na origem psicogênica, atribuindo-se a causa a déficits específicos no cuidado e na interação dos pais com a criança. 
   Historicamente, Ritvo (1976) foi um dos primeiros autores a tecer considerações sobre a etiopatogenia dos quadros autísticos como sendo uma desordem do desenvolvimento, causada por uma patologia do sistema nervoso central, além de salientar a importância do déficit cognitivo. Na realidade, nos dias de hoje,a maioria dos autores que se dedicam à investigação do autismo e da Síndrome de Asperger têm admitido sua heterogeneidade etiológica. Há evidências crescentes de que possa ser causado por uma variedade de problemas como seguem abaixo.
   A influência genética, por exemplo, tem sido demonstrada em recentes artigos de revisão (Folsten e Rutter, 1988; Smalley; Asarnow e Spence, 1988; Rutter e col., 1990; London, 1999), os quais evidenciam que há maior probabilidade de ocorrer autismo em gêmeos monozigóticos (MZ) do que em gêmeos dizigóticos (DZ).
   Os estudos revelam que, no primeiro caso, o índice de concordância varia em torno de 60%, enquanto que no caso de gêmeos dizigóticos, em torno de 5-10%, sendo semelhante ao que ocorre entre irmãos que não são gêmeos.
   Outros estudos dizem respeito a publicações relacionando as intercorrências pré, peri e pós-natais como possíveis etiologias do transtorno autístico.
   Em relação aos agentes infecciosos, por exemplo, há trabalhos que demonstram crianças autistas que no período pré-natal estiveram expostas ao vírus da rubéola, toxoplasmose, citomegalovirus, além de casos de encefalite herpética pós-natal e também relacionados ao uso de agentes químicos (talidomida, cocaína,álcool, chumbo) durante a gravidez.




Assistam: Mary and Max (Fabuloso filme baseado em fatos reais que aborda o tema de modo muito interessante ;))


sábado, 23 de outubro de 2010

Síndrome de Prune Belly

Tríade:

  • Ausência ou deficiência da musculatura abdominal
  • O não desenvolvimento dos testículos
  • Uma anormal expansão da bexiga e problemas no trato urinário superior, que pode incluir a bexiga, ureteres e rins
  • Incidência:
    - 1/35000 à 1/50000 nascidos vivos
    - 95% em meninos 
  • Etiologia:
    - Duas hipóteses:

*   Defeito no desenvolvimento do mesoderma primá
rio
 * Obstrução do trato urinário durante o desenvolvimento fetal 


  • Quadro  clínico:
      - abdome
      - Órgãos do trato urinário
      - Intestino visualizado
      - Ausência dos testículos
      - Repetidas infecções do trato urinário
      - Refluxo vesicouretral

 
Patologia
     - Musculatura abdominal 
      * Miopatia: hipoplasia, assimetria muscular
      * Aparência: enrugada 
     
       - Trato uro-genital 
       * Uretra: extremamente dilatada, pode ocorrer estenose
       * Próstata: hipoplasia
       * Bexiga: distensão
       * Ureter: hidro ou mega - com dilatações, diminuição peristalse, refluxo
       * Rins: displasia, cistos, hipoplasia ou hidronefrose, infecções de repetições
       * Testículos: intra-abdominais   
        - Respiratório
       * Hipoplasia pulmonar; insuficiência respiratória

       * Atelectasia e pneumonia lobar: deformidade  torácica, função diafragmática e mecanismo  de tosse prejudicada.
 
        - Cardiovascular 
   * Defeito do septo atrial ou ventricular;
       tetralogia de Fallot. 
       - Musculoesquelético 
   * Pé eqüinovaro
   * Escoliose e deslocamento do quadril
   * Polidactilia
   * Pectus excavatum 
 
 
 
  • Diagnóstico:
   - Clínico
   - Ultra-sonografia(gestante e RN)
   - Testes sangüíneos
   - RX
   - Uretrocistografia miccional
   - Cintilografia renal
   - Outros
 
 Tratamento: 
   - antibioticoterapia,
   - vesicostomia
   - cirurgia de remodelamento da parede abdominal
   - correção de anomalia uro-genital
   - Nefrostomia, ureterostomia
   - Fisioterapia
   - A resolução da uropatia fetal é mandatória


 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Pneumoconioses

As pneumoconioses mais prevalentes são a silicose, a asbestose e a pneumoconiose do trabalhador do carvão. O termo pneumoconiose é largamente utilizado quando se designa o grupo genérico de pneumopatias relacionadas etiologicamente à inalação de poeiras em ambientes de trabalho. Excluem-se dessa denominação as alterações neoplásicas e as reações obstrutivas como asma, bronquite e enfisema.(1) Apesar de esse conceito englobar a maior parte das alterações envolvendo o parênquima pulmonar, foi ressaltado o fato de que o termo pneumoconiose pode não ser adequado quando frente a determinadas pneumopatias mediadas por processos de hipersensibilidade que atingem o pulmão, como as alveolites alérgicas por exposição a poeiras orgânicas, a doença pulmonar pelo berílio e a pneumopatia pelo cobalto, por exemplo.(2) Essas considerações têm importância quando se estudam os processos fisiopatogênicos subjacentes a determinadas pneumopatias devidas à inalação de poeiras. No entanto, o termo pneumoconiose continuará a ser utilizado para designar genericamente esse grupo de doenças. As pneumoconioses são didaticamente divididas em fibrogênicas e não fibrogênicas de acordo com o potencial da poeira em produzir esse tipo de reação tecidual. Apesar de existirem tipos bastante polares de pneumoconioses fibrogênicas e não fibrogênicas, como a silicose e a asbestose, de um lado, e a baritose, de outro, existe a possibilidade fisiopatogênica de poeiras tidas como não fibrogênicas produzirem algum grau de fibrose, dependendo da dose e das condições de exposição.
Grande número de pneumoconioses não fibrogênicas são causadas pela inalação de poeiras metálicas a partir de fumos metálicos e poeiras de sais inorgânicos. O Quadro 1 apresenta alguns exemplos de pneumoconioses, com seus respectivos quadros histopatológicos, relacionadas a diversas poeiras.



A distinção quanto à forma química (também chamada de especiação química) do composto metálico inalado é importante com relação ao tipo de reação tecidual desencadeada e ao prognóstico. Como exemplo, pode-se citar o caso do níquel, que na forma de óxidos contidos em fumos pode levar à ocorrência de dano alveolar difuso, e na forma de sais inorgânicos não óxidos pode causar câncer de pulmão.(3)


A silicose é uma doença pulmonar parenquimatosa associada à exposição ao dióxido de silicone cristalino,presente na crosta terrestre. Pode atingir jateadores de areia, perfuradores de rochas, vidreiros, trabalhadores de pedras e do solo, de fundição, de cerâmica, de farinha de sílica, etc6. As lesões iniciais são constituídas por macrófagos repletos de poeira (sílica) que ficam depositados na pleura, parênquima e em região peribrônquica, formando nódulos com núcleo de colágeno, que confluem gerando massas de fibrose maciça progressiva (lesões de tecido conjuntivo hialinizado denso) com pouca inflamação, inclusive em região parahilar.
A exposição à poeira pode gerar tosse e produção de escarro devido a uma bronquite subjacente. Dispnéia clinicamente significativa e rapidamente progressiva pode estar presente, assim como alterações nas provas de função pulmonar. Nesses pacientes, há maior risco de infecção bacteriana. Antes de o diagnóstico de silicose ser firmado, deve-se descartar infecção micobacteriana, que em um número considerável de casos, cursa concomitantemente à silicose 4,5,6.
História ocupacional relacionada à exposição à sílica e os achados radiográficos sugestivos geralmente fazem o diagnóstico da doença6,7,8.
Como a silicose aguda apresenta perda progressiva da função pulmonar, o prognóstico é sombrio, sendo que a forma aguda pode ser rapidamente fatal. A forma crônica de fibrose maciça progressiva pode levar a um comprometimento progressivo e à insuficiência respiratória variáveis.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ao Change

Não sei quando você vai ver isso aqui, mas quero deixar desde já meu sincero agradecimento pelo link que me enviou. Se era esperança o que você queria me enviar, pode ter certeza de que me mandou mais do que isso!

Obrigada por tudo.

Só para constar: meu filho agora entrou numa de colecionar laranjas num jarro da avó dele. rsrs... não há mesmo como fugir da esperança!

Grande Beijo,

E. (ou Sheeva)

domingo, 3 de outubro de 2010

Resenha: Resolução 196/96

JATENE, A. D. Resolução 196/96. Conselho Nacional de Saúde, Brasil, 1996.
             A Resolução 196/96 trata de diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos e é baseada nos principais documentos internacionais que apresentaram critérios de pesquisas semelhantes. Segue, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, visando assegurar os direitos e deveres relacionados à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
             Ela apresenta, em aproximadamente nove páginas, uma série de normas e definições divididos em cerca de dez tópicos principais, como “Termos e Definições”, “Aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos”, “Consentimento livre e esclarecido” e “Riscos e Benefícios”, entre outros, nos quais evidencia e delineia o caminho que os pesquisadores devem traçar para que se alcance sucesso em suas pesquisas de modo a haver o máximo de benefício para todas as partes envolvidas e o mínimo de injúrias possíveis.
             Após definir o que seriam os principais termos condizentes às pesquisas, inclusive o próprio termo pesquisa, de modo a esclarecer e delimitar em margens bem claras as responsabilidades e capacitações de cada componente envolvido (seja ele pessoa física ou competências da pessoa física envolvida), a Resolução aborda os principais aspectos éticos da Pesquisa envolvendo seres humanos, sempre se baseando nos quatro princípios básicos da bioética.
 Em seguida, aborda a necessidade da existência de um consentimento livre e esclarecido, que deva preceder qualquer pesquisa e que seja composto de linguagem fácil e acessível, de modo a que os sujeitos envolvidos ou responsáveis estejam cientes quanto ao que estão se submetendo no ato da anuência à participação da pesquisa, frisando que deverá existir sempre a liberdade de abandonar o procedimento a qualquer momento no ato de sua vontade.
             Há ainda regras que abordam os riscos e benefícios condizentes ao ato da pesquisa, no qual deve haver sempre benefícios que compensem os riscos e a redução máxima desses últimos, havendo ainda possibilidade de indenização em caso desses serem inevitáveis. Em relação ao protocolo de pesquisa, foram enumeradas algumas regras básicas que devem ser seguidas em todos os projetos de pesquisa submetidos ao Comitê de Ética, assim como também foram enumeradas as funções e normas referentes à institucionalização dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS), terminando com esclarecimentos finais quanto à operacionalização da pesquisa, com atribuições do pesquisador e outras conclusões, e disposições transitórias que denomina o Grupo Executivo de Trabalho (GET) como responsável momentâneo das atribuições da CONEP e revoga a Resolução 01/88.
             É inegável a importância do que a Resolução 196/96 visa admitir no que condiz ao máximo respeito pela ética no trabalho com humanos, viabilizando benefícios e diminuindo riscos, além de garantir a soberania da autonomia e dos direitos individuais e coletivos, no entanto, Hardy (2004) assinala a existência de falhas na execução dessas normas no que se fala em atribuições dos CEPs, como o descumprimento nos prazos de entregas do parecer final dos protocolos e o não acompanhamento do desenvolvimento dos projetos, além da concordância da maioria dos presidentes dos CEPs em questão ao admitir que a Resolução é apropriada, porém difícil de ser cumprida.
             Além disso, Macrae (2006) aponta para divergências na adequação de algumas pesquisas a certas normas da Resolução, como dificuldade em fazer crítica social sem ferir interesses de nenhum dos sujeitos estudados, dificuldade para obter consentimento informado quando se trabalha com populações ocultas e o anonimato em pesquisas que também tenham caráter de registro histórico. Sendo assim, pode-se dizer que a Resolução segue princípios nobres e tem constituição ideal ao passo que segue os parâmetros necessários para tais objetivos, porém isso não implica em uma adequação perfeita da realidade de todas as pesquisas e no que se trata do funcionamento de suas próprias instituições.
        Esta resenha crítica visa o esclarecimento de pesquisadores e outros interessados em pesquisa que envolvam humanos, já que o conhecimento da Resolução 196/96 é o primeiro passo para que se tracem metas e se possam desenvolver seus respectivos projetos de pesquisa.
Sobre o autor: Adib Jatene, médico, diretor geral do Hospital do Coração em São Paulo, foi ministro da Saúde duas vezes e, em uma delas, homologou em nome do Conselho Nacional de Saúde a Resolução 196/96, já que é função do mesmo acompanhar o processo de desenvolvimento e incorporação científica e tecnológica na área de saúde, visando à observação de padrões éticos compatíveis com o desenvolvimento sócio-cultural do País.
Edla Cavalcanti Amorim, acadêmica do 5º período de medicina da Universidade Federal de Alagoas.



REFERÊNCIAS
  1. HARDY, Ellen et al . Comitês de Ética em Pesquisa: adequação à Resolução 196/96. Rev. Assoc. Med. Bras.,  São Paulo,  v. 50,  n. 4, Dec.  2004 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302004000400040&lng=en&nrm=iso>. Acessado em  02  Set.  2010.  doi: 10.1590/S0104-42302004000400040.
  2. MACRAE, Edward; VIDAL, Sergio Souza. A Resolução 196/96 e a imposição do modelo biomédico na pesquisa social: dilemas éticos e metodológicos do antropólogo pesquisando o uso de substâncias psicoativas. Rev. Antropol.,  São Paulo,  v. 49,  n. 2, Dec.  2006 .   Disponível em:  <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-7012006000200005&lng=en&nrm=iso>. Acessado em  02  Set.  2010.  doi: 10.1590/S0034-77012006000200005.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Síndrome de Young

A associação entre infecções respiratórias de repetição e azoospermia de causa obstrutiva foi descrita pela primeira vez em 1970, sendo denominada síndrome de Young. A síndrome de Young está incluída na discinesia ciliar primária, doença genética de caráter autossômico recessivo que determina anomalias ultra-estruturais dos cílios presentes na mucosa do aparelho respiratório e dos espermatozóides. Outra apresentação clínica da discinesia ciliar primária é a síndrome de Kartagener, caracterizada pela tríade sinusite-bronquiectasia-situs inversus.


O diagnóstico da síndrome de Young deve ser sempre lembrado nos casos de infecções respiratórias recorrentes (sinusites, rinites purulentas, pneumonias e bronquiectasias) associadas à infertilidade masculina. O diagnóstico é feito através da história clínica, fortemente sugestiva nas situações em que há antecedentes familiares de consangüinidade, uma vez que se trata de doença com herança autossômica recessiva.
Um dos principais diagnósticos diferenciais é a fibrose cística, na qual o aumento da viscosidade da secreção respiratória determina redução do clareamento mucociliar e infecções bacterianas secundárias do aparelho respiratório. Também a fibrose cística está associada à infertilidade masculina, em virtude do espessamento das secreções, enquanto que na síndrome de Young a obstrução do epidídimo decorre de malformação congênita. Dessa forma, a dosagem de sódio e cloro no suor é um passo fundamental no diagnóstico diferencial entre as duas entidades. Outro diferencial é a própria síndrome de Kartagener, na qual os pacientes apresentam elevada proporção de espermatozóides imóveis, porém sem relato de azoospermia. Também devem ser descartadas as imunodeficiências, celulares e humorais, congênitas ou adquiridas nos casos de infecções respiratórias recorrentes.
A confirmação da anomalia ultra-estrutural ciliar na síndrome de Young e nas demais formas clínicas da discinesia ciliar primária é bastante difícil, necessitando-se de técnicas caras como a microscopia eletrônica de transmissão. Existem várias alternativas para esse métodos, como a medida do clearance de sacarina e de radioalbumina e o estudo da freqüência de batimento ciliar em microscópio óptico de contraste de fase.
O acompanhamento do paciente com síndrome de Young inclui o aconselhamento genético à família e medidas para prevenção das infecções respiratórias e suas seqüelas: higiene nasal, uso de mucolíticos, fisioterapia respiratória e cirurgia endoscópica funcional para ampliação dos óstios de drenagem das cavidades paranasais. Através dessas medidas obtém-se melhora significativa da qualidade de vida dos pacientes, com controle adequado do quadro infeccioso respiratório.


Heranças relacionadas ao sexo

Herança ligada ao X recessiva:
O fenótipo aparece em todos os homens que apresentam o alelo, mas as mulheres só expressam o fenótipo se em homozigose recessiva.
A incidência do fenótipo é muito mais alta em homens do que em mulheres.

Um homem afetado passa todas as filhas o alelo afetado.
O pai afetado nunca passa o gene para os filhos, mas passa para todas as filhas.
Exemplos: hemofilia, daltonismo.



Herança ligado ao X dominante:
Se expressa em homozigotas e heterozigotas.
Homens afetados casados com mulheres normais não tem filhos afetados, mas todas as filhas são afetadas.
Exemplos: Raquitismo Hipofosfatêmico, síndrome de Rett.






Herança restrita ao sexo:
Os genes estão localizados no cromossomo Y.
Só aparece em machos.
Exemplo: hipertricose

XYhi > afetado
XYHI > normal

Herança influenciada pelo sexo:

É a variação na expressão de determinados genes em machos e fêmeas.
Pode ser devido à influência dos hormônios sexuais.
Exemplo: calvície, determinada por uma par de genes autossômicos, C e c.
Machos: comporta-se como dominante
Fêmeas: comporta-se como recessivo


Fonte: Herança

Síndrome de Kartagener

A síndrome de Kartagener, chamada atualmente de discinesia ciliar primária, é uma doença genética autossômica recessiva cuja alteração reside nos genes 4 y 12. Clinicamente se caracteriza pela tríade sinusite crônica, bronquiectasias e situs inversus parcial ou total. A prevalência é em torno de 1 para cada 68,000 indivíduos. O diagnóstico é feito mais frequentemente na infância pelo quadro clínico caracterizado por infecções respiratórias de repetição, porém podendo haver outros sintomas não-respiratórios como hipoacusia, surdez e alterações da fertilidade. 

Fisiopatologia: A ultrastrutura da célula ciliada é constituída por cílios medindo em torno de 6 mm de comprimento. Dentro de cada cílio encontra-se o axonema, o qual, por sua vez, é formado por nove pares de microtúbulos periféricos dispostos circunferencialmente a um par central de microtúbulos. O par central de microtúbulos é envolvido por uma bainha, enquanto os pares periféricos são ligados através de conexões de nexina, mantendo-se, assim, a integridade do axonema . Braços de dineína estendem-se de um par de microtúbulos ao par adjacente, em sentido horário, quando vistos a partir da base em direção ao ápice do cílio . Alterações dessa estrutura (ausência de braços de dineína, transposição de microtúbulos, presença de pares de microtúbulos supranumerários) levam a prejuízo do batimento ciliar, com conseqüente diminuição da depuração ("clearence") das secreções respiratórias e da motilidade de espermatozóides, nos pacientes do sexo masculino em idade fértil.



Tratamento: A DCP não possui tratamento específico. De forma semelhante ao que ocorre na fibrose cística e nas imunodeficências, o objetivo do tratamento é prevenir e diagnosticar precocemente os episódios infecciosos das vias aéreas, orientando-se o paciente a realizar fluidificação das secreções e fisioterapia respiratória. Dada a fisiopatologia da DCP, na qual o batimento ciliar é ineficaz para o clareamento das secreções, com conseqüente estase e infecção bacteriana secundária, entre os tratamentos preconizados estão a cirurgia endoscópica nasossinusal para ampliação dos óstios de drenagem dos seios paranasais, colocação de tubo de ventilação na orelha média e adenoidectomia. Com essas medidas tem sido observada melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes com DCP.

Algumas fotos de achados radiográficos:








Síndrome de Noonan

"A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro."


(Albert Einstein)


Características básicas da síndrome: baixa estatura, defeito cardíaco, pescoço curto ou alado, deformidade torácica, facies característico (com hipertelorismo, inclinação para baixo das fendas palpebrais, ptose palpebral, palato alto e má oclusão dentária, displasia auricular) e retardo mental em alguns casos. Em pacientes masculinos: criptorquidia.


Surgiu como um diagnóstico diferencial para a síndrome de Turner em 1963, por Noonan e Ehmke. Na Síndrome de Turner, que sempre se associa ao fenotipo feminino, há disgenesia ovariana com hipoplasia ou agenesia de elementos germinativos. O cariótipo é anormal, podendo haver apenas monossomia (45X), deleções ou outras alterações em um dos cromossomos X. Na Síndrome de Noonan ambos os sexos são afetados e o cariótipo é normal.


Etiologia: Monogênica autossômica dominante de expressividade muito variável. 
Prevalência: É relativamente elevada,entre 1:1000 e 1:2500 nascidos vivos. 




 




Fontes: Alterações comportamentais na Síndrome de Noonan: dados preliminares brasileiros
Síndrome de Noonan

A diferença entre congênito e genético

Congênito, de acordo com o dicionário médico, significa: Inato, característica presente à nascença: ou hereditária (genética) ou adquirida no útero, durante a gravidez.
Já genético, quer dizer: Relativo às características transmitidas pelos genes que formam os cromossomas das células reprodutoras.


Em outras palavras, congênito é aquilo que a criança nasce com ela, porque supõe-se que foi adquirido durante a gravidez. E isso independe de ser genético (herdado) ou não. Por exemplo: uma criança que nasce com Síndrome de Down, tem um transtorno congênito (nasceu com isso) e genético (porque é de herança cromossomal). Já uma criança que nasceu com surdez porque a mãe teve rubéola durante a gestação, tem um transtorno congênito, mas de origem ambiental.


Enquanto isso, uma pessoa pode manifestar algo genético sem ser congênito. Confuso? Não, muito simples! Doenças como diabetes, hipertensão, demência de Alzheimer, entre outras, têm um caráter genético envolvido, mas só se manifestam a partir de uma certa idade, muitas vezes já na terceira idade.


Genética é isso: simples assim!


Fonte: Dicionário Médico

domingo, 19 de setembro de 2010

Mais sobre variáveis

Selecionando a estatística apropriada
 Segundo os autores, a maioria dos pesquisadores iniciantes enfrentam sérias dificuldades quando tem de usar a análise estatística. Eles apontam como prováveis causas o ensino de Estatística que, frequentemente, tem um enfoque matemático ou de livro de culinária que não conduzem  ao aproveitamento desta ferramenta e, a ansiedade matemática, que pode levar os estudantes a evitar o uso de números e a não confiança na área. Essa situação conduz muitos  estudantes a dependência de outros para selecionar a estatística adequada a seu projeto. O objetivo deste capítulo é ajudar a ter uma idéia da potencialidade da estatística apropriada a sua pesquisa.
 Primeiro examine seu estudo
 Como primeiro passo na escolha da estatística apropriada, identifique o propósito que você quer com sua análise estatística. Inicialmente você deve especificar claramente as várias questões que você quer que sua análise estatística responda. Comece com suas questões de pesquisa e hipóteses. Porém, você precisa ir além disso, pois usará a Estatística para mais do que testar sua hipótese.
 Suponha que desejamos saber como as atitudes em relação à Matemática interferem na formação das atitudes em relação à Estatística e o impacto dessas atitudes no desempenho na disciplina de Estatística, além da interferência de outras variáveis. A Figura 1 esquematiza as variáveis, a relação entre elas e as hipóteses.

A seguir, faça uma lista de cada variável que você pretende analisar. Se você está olhando as características demográficas de sua amostra, liste cada peça de dados demográficos e determine como você pegará os dados para cada sujeito em cada variável. Faça a mesma coisa para suas variáveis dependentes e independentes. No nosso exemplo:
  Tabela 1. Lista das variáveis a serem pesquisadas e suas características
Construtos / variáveis
Instrumento
Variáveis
Natureza (1)
Valores / níveis ou categorias
Desempenho em
Estatística (2)
Registros
 acadêmicos
Nota final
Dependente
Quantitativa – contínua
De 0 a 10
Atitudes em relação à Estatística
Escala do tipo
Likert de 20 itens
Pontuação na escala
Dependente
Quantitativa – contínua
De 20 a 80 pontos
Atitudes em relação à Matemática
Escala do tipo
Likert de 20 itens
Pontuação na escala
Independente
Quantitativa – contínua
De 20 a 80 pontos
Área de conhecimento
do curso
Questionário
Área
Independente
Qualitativa nominal
Exatas, Humanas, Biológicas
Turno do curso
Questionário
Turno
Independente
Qualitativa nominal
Diurno, Matutino, Vespertino, Noturno
Gênero
Questionário
Gênero
Independente
Qualitativa nominal
Masculino
Feminino
Idade (3)
Questionário
Faixa etária
Independente
Qualitativa ordinal
Até 18; de 19 a 21; de 22 a 24, + 25
Renda Familiar (4)
Questionário
Faixa de renda
Independente
Qualitativa ordinal
Até 5, de 5 a 10, de 10 a 20, mais de 20
Nº de disciplinas de Matemática cursadas (5)
Histórico escolar
do aluno
Número_mat
Independente
Qualitativa ordinal
Nenhuma, uma,
duas ou mais
Curso no 2º grau
Questionário
Curso_2ºgrau
Independente
Qualitativa nominal
Científico, Técnico, Magistério
Pontuação no vestibular geral (6)
Registro acadêmico
Vestibular_total
Independente
Quantitativa – contínua
0 a 100
Pontuação no vestibular
em Matemática (6)
Registro acadêmico
Vestibular_mat
Independente
Quantitativa – contínua
0 a 100
Auto-percepção de desempenho em Matemática
Questionário
Auto-percepção
Matemática
Independente
Qualitativa ordinal
Péssimo, ruim,
bom, muito bom
Nº de disciplinas de Estatística cursadas (5)
Histórico escolar
do aluno
Número_est
Independente
Qualitativa ordinal
Nenhuma, uma,
duas ou mais
Reprovação em
Estatística (7)
Histórico escolar
do aluno
Reprovação
Independente
Qualitativa nominal
Reprovou, não, cursando 1ª vez
Auto-percepção de desempenho em Estatística
Questionário
Auto-percepção
Estatística
Independente
Qualitativa ordinal
Péssimo, ruim,
bom, muito bom
(1)     As variáveis, de acordo a sua natureza se classificam em quantitativas (discretas e contínuas) e qualitativas ou categóricas (nominal e ordinal); de acordo a sua função em variáveis dependentes (VD) e independentes (VI).
(2)     Você pode elaborar um instrumento para avaliar o desempenho.
(3)     A idade pode ser definida como contínua se perguntarmos a data de nascimento e calcularmos a idade exata, com frações de anos; como discreta, se perguntarmos a idade em anos completos, e qualitativa ordinal, se fixarmos faixas, como, por exemplo, menos de 18 anos; de 19 a 21; de 22 a 24, e 25 anos ou mais.
(4)     A renda familiar, idem a variável idade: contínua (valor exato); discreta (número de salários mínimos completos); ordinal (faixas de renda).
(5)     Via de regra, este tipo de variável toma poucos valores, logo pode ser definida como ordinal: nenhuma, uma, duas ou mais.
(6)     Depende da Universidade, via de regra a pontuação é padronizada. Outra forma de mensurar esta variável é o posto que o aluno ocupou no vestibular.
(7)     Você pode definir como qualitativa nominal: reprovou, não reprovou, cursando pela primeira vez.
Sugestão: se possível, pegue o dado bruto, depois via SPSS agrupe, isto lhe dará flexibilidade para diversos agrupamentos. Se você não conhece a definição dos termos estatísticos procure o GLOSSÁRIO em anexo.
Não se preocupe se você fica confuso. Confusão pode ser sinal que você precisa clarear exatamente como cada medida gerará um dado. Tire uma cópia de cada instrumento, simule dados para poucos sujeitos, registre os dados e examine os resultados. No final desse processo, você terá uma lista de questões que você tenta responder com Estatística e uma segunda lista de variáveis que aquelas estatísticas usaram de uma ou de outra maneira.
Observe que algumas variáveis serão coletadas por instrumentos, alguns já elaborados e validados, tais como a escala de atitudes, outros você elaborará. Se você opta por construir o instrumento (por exemplo, uma prova para avaliar o desempenho), lembre-se de validar o instrumento.
A seguir, escolha uma das questões que você tenta responder com Estatística. Indique as variáveis independentes e dependente(categorias ou valores) específicas envolvidas na resposta desta questão. Por exemplo, se a questão fosse: “a área de conhecimento do curso e gênero interferem na formação de atitudes em relação à Estatística”. Você deve listar a variável gênero (Masculino, Feminino) e variável área de conhecimento (Exatas, Humanas, Biológicas) como variáveis independentes e a pontuação na escala como variável dependente. Então, pergunte a sim mesmo:
(a)    esta questão será respondida comparando grupos de sujeitos? ou,
(b)   esta questão será respondida relacionando a pontuação das diferentes variáveis a uma outra em um único grupo de sujeitos?
 Neste caso, a primeira alternativa é a correta. Você precisa comparar pontuações entre vários grupos. As estatísticas que comparam grupos são os delineamentos experimentais e quase-experimentais, que comparam entre grupos, dentro de grupos, e mistos. Note que uma comparação estatística de grupos pode ser apropriada se você está comparando  ou (a) as pontuações de diferentes grupos de indivíduos (Masculino, Feminino) ou (b) as pontuações do mesmo grupo de indivíduos que tem sido registrados em diferentes pontos no tempo (pré-teste e pós-teste) ou sobre diferentes condições.
No nosso exemplo:

Hipótese: existe diferença significativa
 Os delineamentos que requerem estatísticas de comparação de grupos usa variáveis independentes que o pesquisador define de forma que os sujeitos se encaixem em grupos, onde cada grupo é chamado de nível e tem seu rótulo, chamadas de variáveis qualitativas ou categóricas. No nosso exemplo: Gênero (Masculino e Feminino), área de conhecimento (Exatas, Humanas e Biológicas). Se o pesquisador não está interessado nas diferenças por gênero, esta não deve ser considerada como variável independente e o pesquisador não tem porque examiná-la.
Se você deseja tratar seus sujeitos como um único grupo e examinar associações entre pontuações, um delineamento correlacional pode ser mais apropriado. Este será o caso se a questão de pesquisa for “qual a relação entre as atitudes em relação à Estatística (medido pela somatória de pontos obtidos nos 20 itens da escala de atitudes), as atitudes em relação à Matemática (similar a anterior) e o desempenho em Estatística (mensurado como a nota final na disciplina)?” Esta pesquisa trata todos os sujeitos como um simples grupo. Eles não estão sorteados em grupos separados. Nos estudos correlacionais  as variáveis podem ser contínuas ou discretas, embora é mais freqüente serem contínuas. Nos procuramos por estatísticas correlacionais para responder questões de tipos de associação ou derelação. Neste caso usaremos as técnicas de correlação e de regressão
Variável independente
Quantitativa
(covariável)

Variável dependente
Quantitativa

Variável dependente
Quantitativa
Atitudes em relação à matemática
  ----->
Atitudes em relação
à Estatística
  <---->
Desempenho
em Estatística
 
Um outro exemplo: suponha que você está interessado  em saber se crianças com alto coeficiente de inteligência (QI) experimentam mais problemas com seus pais do que crianças sem alto QI. Você pode delinear seu estudo de duas formas: (a) coletar a pontuação do QI e da interação com os pais e examinar a relação entre eles, ou (b) sortear crianças em grupos de QI, com dois ou mais níveis (pe. alto e médio QI) e olhar a diferença entre os grupos na interação com seus pais, usando uma comparação de grupos.

QI medido com testes apropriados
Interação com os pais (quantitativa), medido com um instrumento similar a escala de atitudes.
Via de regra, delineamentos correlacionais são mais apropriados quando você conceitua sua variável independente como contínua (pe. inteligência, pontuação na escala de atitudes, nota numa prova) ou se você deseja  examinar as melhores combinações de variáveis independentes para prever uma única variável dependente. Também, é adequado quando você não consegue manipular as variáveis independentes (você não pode manipular, inteligência, atitudes, etc.). De outro lado, se você transformar uma variável contínua em grupos e usar estatísticas de comparação, seus resultados perdem poder estatístico.
Delineamento de comparação de grupos são mais apropriados que os delineamentos correlacionais quando a variável independente é naturalmente categorizada (por exemplo, gênero, tipo de escola, área de conhecimento), ou baseada em variáveis combinadas, em um forma não linear (por exemplo, diagnóstico psiquiátrico,  os quais estão baseados na presença, ausência ou degraus de vários comportamentos). Comparação de grupos, também, são mais apropriados quando você manipula as variáveis independentes (por exemplo tratamento versus controle).
Como segundo passo na escolha da estatística apropriada, cheque se sua variável dependente é adequada para a estatística paramétrica. A estatística paramétrica envolve dois pressupostos, subjacentes a distribuição dos escores na população, onde você está amostrando. O primeiro é que esses escores seguem uma distribuição normal e, o segundo, é que os dados entre diferentes sujeitos sãoindependentes. Outros testes paramétricos tem requerimentos adicionais. Portanto, uma variável qualitativa ou categórica não se enquadra neste tipo de estatística, devendo usar o enfoque da estatística não paramétrica.
Assim recorremos a estatística paramétrica quando analisamos variáveis dependentes contínuas. Se essas variáveis violam os pressupostos e não tem como corrigir essa violação, então você deve utilizar a estatística não paramétrica.
Examine cada variável dependente uma por uma nesse processo. Nem todas terão as mesmas características. Um erro comum, por exemplo, é assumir que você pode usar o mesmo teste estatístico  se os grupos experimentais são equivalente em idade, gênero, anos de estudos e outras variáveis demográficas. Idade e anos de estudo são duas variáveis geralmente analisadas com estatística paramétrica. Gênero e etnia são variáveis categóricas e por isto devem ser analisadas com Estatística não paramétrica.
Você poderá usar diferentes estatísticas.
Neste ponto, você tem uma lista de questões que você usará estatística para responder.  Você tem uma lista de variáveis dependentes e variáveis independentes. Para cada variável dependente você indicará se um teste paramétrico é adequado ou não. Finalmente, você indicará se a questão envolve análise comparando grupos (estatísticas de comparação de grupos) ou relacionando escores de uma ou mais medidas em um único grupo (estatística  correlacional).
No nosso exemplo, a variável dependente pode ser tanto as atitudes em relação à Estatística, quanto as notas na disciplina. Via de regra, a pontuação na escala de atitudes segue uma distribuição normal, já as notas, nem sempre. Você tem duas opções: uma aprender a lidar com a Estatística não paramétrica, a outra, aumentar o tamanho da amostra.
Supondo que suas variáveis dependentes tivessem uma distribuição normal ou que sua amostra fosse suficientemente grande, você deve verificar todas as possibilidades de análise: univariada , bivariada, múltipla e multivariada, se for o caso. A Tabela 2 mostra o planeamento para análise univariada e bivariada. Numa primeira triagem você deve rodar todas as análises, colocar os resultados de forma sintética e depois explorar aquelas que apresentaram resultados interessantes. Lembre-se que não encontrar os resultados esperados, também pode ser interessante. Faça uma análise cuidadosa dos resultados.
     A análise univariada é quando a variável é analisada per se, análise bivariada quando uma variável dependente é relacionada com uma única variável independente, análise múltipla quando se analisa uma variável dependente em função de várias variáveis independentes, e análise multivariada, quando se analisa várias variáveis dependentes contínuas em função de variáveis independentes categóricas ou quando se analisa a estrutura das variáveis, visando a redução do número de variáveis.
Se a variável dependente for categórica e você deseja saber, por exemplo, se esta se relaciona com uma variável independente categórica, você deverá utilizar o teste Qui-quadrado. Por exemplo, se você quer saber se a escolha do curso (área de conhecimento) está relacionada ao Gênero, ou se as mulheres tendem a ter uma auto-percepção de desempenho em Estatística  menos positiva do que os homens. A Tabela 3 e as Figuras 2 e 3 complementam o esquema de análise.

Tabela 2. Planejamento das análises estatísticas univariadas e bivariadas das variáveis



Variáveis
Análise univariada

Análise bivariada
Variável dependente: Nota final (*)
Estatísticas
Gráficos
Apropriados

Estatísticas
Gráficos
apropriados
Nota final
n, média, dp
Histograma, ramo e folhas ou box-plot



Pont. na escala estatística
n, média, dp
Histograma, ramo e folhas ou box-plot

Correlação bivariada
 regressão simples
Scatter plot
Pont. na escala matemática
n, média, dp
Histograma, ramo e folhas ou box-plot

Correlação bivariada
Regressão simples
Scatter plot
Área
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
Turno
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
Gênero
TDF
Barras

Teste t-student
box-plot
Faixa etária
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
Faixa de renda
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
Número_mat
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
Curso_2ºgrau
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
Vestibular_total
n, média, dp
Histograma, ramo e folhas ou box-plot

Correlação bivariada regressão simples
Scatter plot
Vestibular_mat
n, média, dp
Histograma, ramo e folhas ou box-plot

Correlação bivariada regressão simples
Scatter plot
Auto-percepção Matemática
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
Número_est
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
Reprovação
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
Auto-percepção Estatística
TDF
Barras

ANOVA – Teste F
box-plot
TDF= Tabela de distribuição de frequências (use a opção frequencies do SPSS);
 
n = tamanho da amostra
dp = desvio padrão;
(*) o mesmo esquema pode ser utilizado para a variável atitudes em relação à Estatística

Tabela 3. Exemplo dos principais testes estatísticos

Variável Dependente
(VD)
Variável independente
(VI)
Teste estatístico
Hipótese nula (Ho)
O que está sendo testado pelo SPSS
Hipótese alternativa (H1)
O que você quer mostrar
Nota em estatística
(quantitativa)
Gênero
(categórica)
Masculino, Feminino
Comparação de grupos
t-student (amostras independentes)
Não existe diferença significativa na nota média de homens e mulheres
Ho1= m 2
existe diferença significativa na nota média de homens e mulheres
H1¹ m 2
Pontuação na escala de atitudes Estatística
(quantitativa)
Área de conhecimento (categórica)
Exatas, Humanas, Biológicas
Comparação de grupos
ANOVA 1 fator
Teste F
Não existe diferença significativa
 na pontuação média entre áreas
Ho1= m 2= m 3
existe pelo menos uma diferença sig.
 na pontuação média entre áreas:
H1mi  ¹  mj
Pontuação na escala de atitudes Estatística
(quantitativa)
Área de conhecimento:  Exatas, Humanas, Biológicas
Gênero: Masculino, Feminino (ambas categóricas)
Comparação de grupos
ANOVA 2 fatores
sem interação (Blocos)
Teste F
Não existe diferença signifi-
cativa na pontuação média
      entre áreas:       Hom1= m2= m3.
      entre gêneros:   Hom.1= m.2
Existe diferença signifi-
cativa na pontuação média
         entre áreas:       H1mi.  ¹  mj.
entre gêneros:   H1m.¹  m.2
Nota em estatística (Y)
(quantitativa)
Pontuação na escala
de atitudes Estatística (X)
(quantitativa)
Correlação linear
Coeficiente de correlação de Pearson (Spearman)
Não existe relação entre a Nota
em estatística (Y) e Pontuação na
Escala de atitudes Estatística (X)
Hoxy = 0
A nota em estatística e influenciada
 pela pontuação na escala
de atitudes Estatística:
H1r xy  ¹ 0
Nota em estatística (Y)
(quantitativa)
Pontuação na escala
de atitudes Estatística (X)
(quantitativa)
Regressão linear simples
A nota em estatística (Y) não
pode ser expressa como uma
função linear da pontuação na
escala de atitudes Estatística (X)
Ho: Y ¹  a + b*X
A nota em estatística pode
ser expressa como uma
função linear da pontuação na
escala de atitudes Estatística
H1: Y = a + b*X
Nota em estatística (Y)
(quantitativa)
Atitudes Matemática    (X1)
Atitudes Estatística      (X2)
Vestibular geral            (X3)
Vestibular Matemática (X4)
(todas quantitativas)
Regressão linear múltipla
A nota em estatística não pode ser expressa como uma função linear
das variáveis independentes
Ho: Y ¹  a + b*X1+ c*X2+ d*X3+ e*X4
A nota em estatística  pode ser
Expressa como uma função linear
das variáveis independentes
H1: Y =  a + b*X1+ c*X2+ d*X3+ e*X4
Nota em estatística (Y)
(quantitativa)
Atitudes Estatística   (X)
(quantitativas – covariável)
Área de conhecimento (Z)
(categórica): Ex., Hum., Bio
Análise de Covariância
ANCOVA
A nota em estatística não pode ser expressa como uma função linear
das variáveis independentes
Ho: Y ¹  a + b*X+ c*Z
A nota em estatística pode ser
Expressa como uma função linear
das variáveis independentes
H1: Y =  a + b*X+ c*Z
Auto-percepção de desempenho em Estatística (Y) (categórica): Péssimo, ruim, bom, muito bom










Gênero (X)
(categórica)
Masculino, Feminino
Qui-quadrado
c2
Não existe relação entre a Auto-percepção de desempenho
em Estatística e o gênero
Ho: Y não depende de X
Existe relação entre a Auto-
Percepção de desempenho
em Estatística e o gênero
H1: Y depende de X