sábado, 25 de dezembro de 2010

Síndrome de Asperger

   Asperger é, até os dias de hoje, um desafio. A Síndrome de Asperger é uma condição ainda pouco conhecida e de difícil diagnóstico, devido à dificuldade na padronização ou definição. O aumento de casos diagnosticados faz com que se pesquise mais sobre o assunto,mas sua cura ainda está distante. Atualmente, é considerada uma síndrome por apresentar um conjunto de sintomas que pode ter mais de uma origem.
   O termo “Autismo” foi usado pela primeira vez por Ernst Bleuler, em 1991, para descrever um dos sintomas de base da esquizofrenia, caracterizado pelo isolamento social. Os autores pioneiros na descrição do Autismo foram Leo Kanner (EUA),1943, e Hans Asperger (Áustria), 1944. Em seus trabalhos, ambos chamavam atenção para crianças que apresentavam características comuns relacionadas à forma particular de comunicação, à dificuldade de adaptação ao meio social, às estereotipias motoras e ao caráter enigmático e irregular das capacidades intelectuais.
  A Síndrome de Asperger, assim como outros quadros autísticos, tem sido definida como um transtorno evolutivo raro, caracterizado por um severo déficit no contato social, que surge desdea infância, persistindo até à idade adulta.
  Ao descrever o quadro, Hans Asperger chama atenção para crianças com uma alteração fundamental, manifestada através de seus comportamentos e modos de expressão, que gera dificuldades consideráveis e bem típicas na interação social. São eles:

  • a singularidade do olhar; a mímica facial pobre; a utilização da linguagem anormal e pouco natural; a invenção de palavras; a impulsividade em geral de difícil controle; dificuldade no aprendizado de alguns ensinamentos; os centros de interesse bastante pontuais; e a capacidade freqüentemente presente para a lógica abstrata;
  • a qualidade vocal é característica, usando palavras impróprias para a idade;
  • peculiaridades da linguagem não verbal como a falta de contato olho-olho e alterações de gestos, postura, labilidade de humor e pedantismo.
   Indivíduos com a Síndrome de Asperger percebem o mundo diferentemente de nós, diz o autor.
 Com freqüência, apresentam conflitos internos relacionados aos pensamentos, sentimentos e comportamentos convencionais, desenvolvendo uma forma particular de “estar no mundo”,adaptando-se a ele com manobras compensatórias, chegando a conseguir algum grau de independência e de relacionamento social na vida adulta.
   Na maior parte dos acometidos pela síndrome, a característica mais flagrante é a falta de interação social, compensada em alguns casos por uma originalidade particular na forma de pensar,que pode levar a capacidades excepcionais.
  A designação de Síndrome de Asperger tem sido empregada em diferentes situações, como sinonímia de autismo atípico ou residual,“autismo de bom prognóstico”,“autismo de alto funcionamento”, ou ainda para alguns indivíduos com outras formas de transtorno invasivo do desenvolvimento ou mesmo comoum transtorno independente do autismo. Na realidade, nenhum dos autores que se preocupa em estabelecer critérios diagnósticos para a Síndrome de Asperger foi categórico em defini-la como condição distinta do autismo, considerando-a como parte do transtorno do espectro autista (Schopler, 1985; Volkmar, Paul &Cohen, 1985; Wing, 1986).
  Nos tempos atuais,“Asperger” refere-se àqueles indivíduos que apresentam características autísticas, são inteligentes e apresentam aptidões lingüísticas aparentemente normais, mas que não preenchem todos os critérios necessários para que se caracterize um quadro autístico clássico (Klin, 1995). Apesar desses indivíduos apresentarem dificuldades na interação social, percebe-se que é no desenvolvimento da linguagem que ocorre a característica diferencial, pois na Síndrome de Asperger não seriam observados atrasos tão significativos no seu desenvolvimento.
  Após revisão dos critérios diagnósticos utilizados pela American Psychiatric Association (DSM-III; DSM-III R; CID 10e DSM-IV) observa-se, ainda nos dias de hoje, complexidade para o diagnóstico médico da Síndrome de Asperger, por ser baseado em descrições que não permitem conclusões quanto à sua etiologia. Conclui-se que uma classificação comum torna-se fundamental na compreensão e investigação diagnóstica desta e de outras patologias que fazem diagnóstico diferencial.
  Atualmente, os critérios usados como parâmetros de avaliação diagnóstica da Síndrome de Asperger são os do DSM lV(Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder).
  Em relação às características da Síndrome de Asperger ou do “Autismo de Alto Funcionamento”, alguns autores as descrevem como crianças que apresentam, em geral:
  • grande capacidade intelectual, pois algumas chegam a ler por volta dos três ou quatro anos de idade, sem nunca terem sido ensinadas, dentre outros talentos;
  • a dificuldade na comunicação pode ocorrer pelo fato de algumas dessas crianças iniciarem a falar tardiamente, ocasionando um baixo limiar de tolerabilidade, tornando-se, em geral, irritados pela frustração de não conseguirem manifestar de pronto suas vontades;
  • nem sempre ocorre comprometimento de coordenação motora envolvendo grandes músculos, pois alguns conseguem se sobressair em esportes;
  • como características peculiares, essas crianças muitas vezes têm dificuldade para escrever usando lápis ou caneta, mas conseguem fazê-lo usando computadores ou máquinas de escrever;
  • costumam repetir exaustivamente a mesma situação, mas com uma diferença significativa em relação aos considerados autistas “clássicos”, porque se comunicam após terem assistido a um filme várias vezes, por exemplo;
  • esses indivíduos são considerados “esquisitos”, e têm grande dificuldade de interagir com os demais, no convívio social.
  Já a “Hiperlexia”, por definição da AHA-(Associação Americana de Hiperlexia), é uma síndrome observada em crianças que têm as seguintes características:
  • habilidade muito desenvolvida para ler palavras além do que seria esperado na sua idade cronológica, e/ou também uma intensa fascinação por números ou letras;
  • dificuldade significativa em entender e utilizar a linguagem verbal ou faltade habilidade no aprendizado não verbal;
  • dificuldade na interação social;
  • o sintoma mais importante é a grande habilidade para decodificar palavras impressas (geralmente entre os 18 e 24 meses de idade, os pais ficam surpreendidos com a habilidade da criança em ler letras e números);
  • não raro, por volta dos três anos de idade, as crianças vêem palavras impressas e as lêem, algumas vezes o fazem mesmo antes de terem aprendido a falar;
Quanto aos distúrbios de linguagem e de aprendizado daquelas crianças que falam (algumas crianças com hiperlexia não conseguem), muitas apresentam o seguinte padrão de linguagem:

  • tentativas de fala precoce são ecolálicas (tanto imediatas como retardadas);
  • boa memória auditiva para canções aprendidas mecanicamente, o alfabeto e números, e também uma boa memória visual;
  • compreensão de palavras isoladamente (principalmente substantivos) melhor do que a compreensão de sentenças;
  • anormalidades acentuadas na forma ou no conteúdo da fala,incluindo fala estereotipada e repetitiva, uso de reversões pronominais e idiossincrático de palavras ou frases;
  • redução na habilidade de iniciar ou manter uma conversação,apesar da fala gramaticalmente adequada (em alguns casos).
   Todas as crianças hiperléxicas parecem ter um reconhecimento visual de “palavras” que pode não ser relacionado ao reconhecimento de sinais verbais. Eliot e Needleman (1976) sugeriram a existência de uma capacidade inata de reconhecer uma palavra escrita como um símbolo lingüístico separado da palavra falada audível (MOUSINHO, 2001).
   Através das descrições realizadas, poder-se-ia enquadrar a hiperlexia como um subtipo de Asperger, correlacionando essa capacidade específica de leitura a outras apresentadas por pessoas coma Síndrome de Asperger, tais como eventual capacidade extraordinária para cálculos, memorização impressionante de mapas,estradas, bandeiras ou calendários, pelo menos no que se refere aos hiperléxicos com melhor desenvolvimento da linguagem.

Etiologia/Etiopatogenia

   As primeiras teorias etiológicas em relação ao autismo clássico descrito por Leo Kanner e outros autores baseavam-se na origem psicogênica, atribuindo-se a causa a déficits específicos no cuidado e na interação dos pais com a criança. 
   Historicamente, Ritvo (1976) foi um dos primeiros autores a tecer considerações sobre a etiopatogenia dos quadros autísticos como sendo uma desordem do desenvolvimento, causada por uma patologia do sistema nervoso central, além de salientar a importância do déficit cognitivo. Na realidade, nos dias de hoje,a maioria dos autores que se dedicam à investigação do autismo e da Síndrome de Asperger têm admitido sua heterogeneidade etiológica. Há evidências crescentes de que possa ser causado por uma variedade de problemas como seguem abaixo.
   A influência genética, por exemplo, tem sido demonstrada em recentes artigos de revisão (Folsten e Rutter, 1988; Smalley; Asarnow e Spence, 1988; Rutter e col., 1990; London, 1999), os quais evidenciam que há maior probabilidade de ocorrer autismo em gêmeos monozigóticos (MZ) do que em gêmeos dizigóticos (DZ).
   Os estudos revelam que, no primeiro caso, o índice de concordância varia em torno de 60%, enquanto que no caso de gêmeos dizigóticos, em torno de 5-10%, sendo semelhante ao que ocorre entre irmãos que não são gêmeos.
   Outros estudos dizem respeito a publicações relacionando as intercorrências pré, peri e pós-natais como possíveis etiologias do transtorno autístico.
   Em relação aos agentes infecciosos, por exemplo, há trabalhos que demonstram crianças autistas que no período pré-natal estiveram expostas ao vírus da rubéola, toxoplasmose, citomegalovirus, além de casos de encefalite herpética pós-natal e também relacionados ao uso de agentes químicos (talidomida, cocaína,álcool, chumbo) durante a gravidez.




Assistam: Mary and Max (Fabuloso filme baseado em fatos reais que aborda o tema de modo muito interessante ;))